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Mercado instável abre espaço para consolidação de negócios em TiO2

Tempo: 2014-07-15 Fonte de: www.quimica.com.br

O mercado mundial de dióxido de titânio ainda está se adaptando aos efeitos da crise mundial iniciada em 2008. A capacidade instalada de produção se apresenta muito próxima da demanda global pelo insumo. Dessa forma, o abastecimento dos vários mercados só é possível mediante um esforço de planejamento operacional complexo, pressionado pela elevação de custos e, na outra ponta, pelo desejo manifesto dos consumidores de pagar menos pelo insumo.

 
Houve um período de escassez em 2012, não superado totalmente. A expectativa para 2013 é difusa, mas nunca tranquila. E não se vislumbra uma forma de superar essa intranquilidade, pois não se preveem investimentos em novas unidades de produção do pigmento e agente opacificante. Pelo lado da demanda, alguns segmentos reduziram o consumo, caso dos papéis especiais. Porém, algumas fábricas foram paralisadas, mantendo o mercado apertado.
 
A DuPont anunciou estar estudando a venda, completa ou em partes, de sua divisão de negócios de performance chemicals, com faturamento de US$ 7,2 bilhões em 2012 (quase 20% do total da companhia). A divisão inclui os interesses em dióxido de titânio, do qual é um dos maiores players mundiais, cujos resultados esperados para este ano devem ser menores do que os registrados em 2012, embora tenha havido recente recuperação de volumes vendidos. A companhia explicou a saída dos negócios de química de performance, que também incluem fluoroquímicos e especialidades químicas, pelo interesse corporativo de se concentrar em negócios mais rentáveis e menos instáveis, notadamente os ligados à alta tecnologia. A DuPont é a maior fabricante mundial de TiO2, e abastece o mercado brasileiro com uma alíquota de imposto de importação diferenciada, de 6%, por força de acordos internacionais com o México, onde possui uma de suas fábricas.
 
A Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas capitaneou o pleito da redução da alíquota do imposto de importação sobre o dióxido de titânio, obtendo do governo federal uma redução de 12% para 2%, embora limitada a uma cota de 95 mil t para 2012. Em 31 de maio de 2013, o benefício foi renovado, como autorizado pela Câmara de Comércio do Mercosul (Diretriz 11/13), porém limitado a 47 mil t por um período de seis meses. Em meados de julho, essa cota já estava esgotada. A Abrafati já envida esforços para conseguir nova prorrogação.
 
“A redução da alíquota de importação é uma vantagem importante para o abastecimento do mercado”, avaliou Regina Schwab, diretora-geral da distribuidora Braschemical. Tradicional fornecedora do insumo para a fabricação de tintas gráficas, a empresa conquistou em janeiro deste ano a distribuição de produtos da alemã Sachtleben para os segmentos de tintas, plásticos e papéis. “Atuamos com estoques locais, mas também fazemos muitos negócios Indent, nos quais os clientes importam direto da produtora”, explicou.
 
Apesar de considerar a alíquota minorada importante e lamentar a restrição a uma cota de apenas 47 mil t por seis meses, Regina afirma que os efeitos práticos dessa medida, neste ano, não foram significativos. “A liberação das guias de importação com a alíquota menor começou em junho, quando o dólar começou a ficar mais caro no Brasil; a cadeia produtiva estava estocada e houve venda dos estoques a preço baixo, sem contar a participação de pigmentos chineses com preços competitivos, que incomodou bastante”, comentou.
 
Ela confirma que os preços internacionais do TiO2 estão em uma fase de baixa, que tende a ser revertida. Caso contrário, tornam-se previsíveis movimentos de consolidação de negócios, especialmente envolvendo fábricas na Europa. A Sachtleben pertence ao grupo financeiro alemão Rockwood Holdings, contando com capacidade de produção de 340 mil t/ano do insumo, divididas em três fábricas (duas na Alemanha e uma na Finlândia, que já foi da Kemira), todas pelo processo sulfato.
 
O único fabricante brasileiro, a Cristal, nova denominação oficial da companhia para todo o planeta, que no Brasil respondia pelo nome de Millennium Inorganic Chemicals, pode produzir 60 mil t/ano do material, insuficientes para atender à demanda local, avaliada entre 160 mil e 170 mil t/ano. Porém, a companhia, sob controle saudita, adverte: os custos de produção no Brasil são mais elevados do que em outras unidades do grupo. “Estamos rodando com ocupação de somente 70% da capacidade instalada, nem conseguimos mais manter o volume de exportações de Camaçari para os países vizinhos da América do Sul”, comentou Ciro Marino, diretor comercial e de marketing da Cristal para a América do Sul.
 
Ele comentou que a crise de 2008 representou um marco para a indústria mundial de dióxido de titânio. Aquele ano começou com uma forte expectativa de vendas e, por isso, os estoques dos produtores estavam elevados e com o caixa muito baixo, comprometido com a aquisição de matéria-prima. Com a retração econômica, todos passaram a vender o produto a preços baixos, na intenção de reduzir estoques e fazer caixa. Em 2009, sem melhores perspectivas, os fabricantes reduziram a produção e postergaram as intervenções de manutenção como forma de reduzir custos. Os preços seguiram deprimidos e as vendas baixas. “Quando 2010 começou, os produtores de TiO2 estavam com os estoques quase zerados e a confiabilidade das fábricas estava comprometida pela falta de manutenção. Nesse ambiente, os preços começaram a subir, até chegar ao pico de US$ 4 mil por tonelada em 2011”, explicou Marino.
 
Segundo ele, havia em 2011 uma percepção de que a demanda pelo insumo permaneceria aquecida, gerando preocupações quanto ao suprimento de matérias-primas, minérios contendo titânio, como a ilmenita, para 2014 e 2015. “Os contratos de suprimento com as mineradoras são firmados por prazos longos”, comentou. Como os preços do dióxido estavam elevados, as empresas de mineração passaram a exigir aumentos abusivos para renovação de acordos. “Em alguns casos, os aumentos chegaram a 400%”, afirmou.
 
Há alguns anos, o processamento de resíduos metalúrgicos, chamados de slag, ofereceram à indústria mundial uma alternativa mais econômica de matéria-prima. Segundo Marino, mesmo esses resíduos apresentaram majoração de preços, perdendo atratividade. A fábrica de Camaçari foi adaptada para usar slag em substituição de parte do minério, produzido em minas da própria empresa. “O uso de slag permite economizar eletricidade e gerar menos resíduos, mas a vantagem do baixo preço desse material acabou, hoje estamos economizando slag”, explicou.
 
Mas o mercado mudou em 2012. Os sinais de que a economia europeia não se recuperaria e de baixa atividade dos EUA funcionaram como uma ducha gelada nos setores consumidores de TiO2, como tintas, plásticos e papéis. “Os clientes mantinham estoques elevados, para até seis meses, na expectativa de desabastecimento, ou como proteção contra a elevação de preços; eles começaram a desovar esses estoques no primeiro trimestre de 2012”, comentou Marino. Com vendas fracas, os preços despencaram significativamente no segundo semestre, ao final da temporada de pintura de casas no hemisfério norte.
 
“Ao final de 2012, a indústria estava estocada em produto final e matérias-primas e, novamente, com capital de giro curto”, informou o diretor comercial. “Mas, desta vez, houve uma redução do nível de atividade, o setor está rodando em média com 60% e 80% de utilização da capacidade. Com isso, os estoques estão sendo reduzidos.”
 
A média de preços atual, segundo Marino, é de US$ 2.800/t, com variações regionais. Nos EUA, a média tende a subir para US$ 3.200, mas na Europa e na América Latina os preços são significativamente menores. A Ásia começou a sentir os efeitos da perda de fôlego da economia chinesa e apresenta preços baixos. A China, aliás, exerce um papel duplo no cenário global do dióxido de titânio. Ela é grande consumidora e também grande produtora, embora ninguém saiba quantificar sua produção efetiva. “Eles possuem uma grande quantidade de fábricas, de vários tamanhos e qualidades, não há uma estatística confiável”, afirmou. No passado, a produção chinesa desequilibrava os mercados mundiais, mas começou a atuar com mais estabilidade de alguns anos para cá. Segundo Marino, a China passa por grandes transformações e uma delas diz respeito à adoção de padrões ambientais mais rígidos. Isso tem pressionado os seus custos.
 
Marino estima a capacidade mundial de produção do insumo em 5,5 a 6 milhões de t/ano, das quais cerca de 2 milhões no território chinês. “Ainda há muito espaço para racionalizações na China”, identificou. Isso quer dizer: fusões, aquisições e fechamento de plantas.
 
Além das mudanças chinesas, o mercado global também se acomodou ao cenário. “Na década de 1990, havia um grande excedente de produção que foi sendo cortado ano a ano”, considerou Marino. A Cristal, por exemplo, fechou duas fábricas importantes, em Le Havre (França) e Baltimore (EUA), tirando de operação quase 300 mil t/ano. Segundo Marino, essas unidades eram obsoletas e tinham custos elevados de produção. Outras companhias também desativaram unidades de produção, especialmente na Europa. A capacidade atual de produção da companhia é de aproximadamente 800 mil t/ano, a segunda maior do mundo, com tecnologias sulfato e cloreto.
 
Mesmo assim, o setor está longe de encontrar um ponto de equilíbrio. “Os custos estão elevados no mundo todo. Produzir a US$ 2.800/t é inviável, ou o preço do produto final sobe ou caem os preços das matérias-primas”, salientou. Houve anúncios de aumento de preços de TiO2 para o segundo semestre de 2013 da parte de alguns fabricantes, mas ainda não foram efetivados.
 
Do lado das vendas, o mercado mundial de TiO2 registrou crescimento de 10% a 12% no primeiro semestre de 2013 sobre igual período de 2012. No Brasil, segundo Marino, esse incremento foi de 10%. Em parte, esse desempenho de mercado pode ser atribuído a um novo round de formação de estoques nos clientes, como forma de prevenção contra o reajuste de preços.
 
No Brasil, a produção de tintas absorve entre 60% e 65% das vendas do insumo, em grande parte consumida no segmento decorativo imobiliário, que apresenta sinais de estagnação desde o ano anterior. “As vendas de tintas sempre crescem no país, podem crescer menos ou mais, dependendo do ano”, considerou Marino. O setor de resinas plásticas absorve outros 25% a 30% do dióxido de titânio vendido no Brasil. O restante (5% a 10%) é dividido em um grande número de aplicações, das mais diversas, até mesmo na produção de alimentos e dentifrícios.
 
Marino considera que a indústria de TiO2 não está sendo muito criativa, pois ela oferece poucas inovações. Ele atribui esse conservadorismo à baixa rentabilidade global. Assim, o grosso dos investimentos acaba sendo direcionado para melhorias de eficiência nos processos industriais, em vez de apoiar inovações.
 
Mesmo assim, há novidades. É o caso de alguns tipos especiais desenvolvidos em escala nanotecnológica. Quando aplicados às tintas para paredes, eles criam uma camada superficial que funciona como um catalisador para acelerar a decomposição de compostos orgânicos voláteis e agressivos à saúde humana. “A Cristal converteu uma fábrica na França para a produção de tipos especiais, como este, que precisam ser feitos com base em insumos obtidos pela via sulfato”, comentou.
 
Ao mesmo tempo, ele afirma que o setor de tintas no Brasil também é conservador. “Esse mercado é mais orientado pelo preço de venda; temos em nosso portfólio os titânios superduráveis, capazes de conferir vida útil de 20 anos ao filme seco, mas o interesse é muito pequeno por eles”, afirmou. A Cristal brasileira não depende muito de importações, reservadas apenas para produtos especiais.
 
Situação de mercado – A Evonik distribui e representa no Brasil a linha de dióxido de titânio da Kronos Worldwide Inc. Segundo Camila Pecerini, chefe de produto da área de inorganic materials da Evonik, “a demanda global permanece estável e melhorou muito em relação a 2012. O nível de utilização das plantas está se movendo lentamente em direção à capacidade nominal e os estoques continuam a diminuir, tanto nos fabricantes como nos clientes. Além disso, nenhuma nova capacidade para fabricação de grades da linha cloreto foi adicionada (ou anunciada) durante os últimos anos. A maioria dos produtores de TiO2 acabou de enfrentar o período mais duro das últimas décadas e, em 2012, a indústria foi fortemente impactada pelo aumento dos custos de matérias-primas, especialmente do minério. Mesmo que a situação do minério pareça estar melhorando, ao longo dos últimos dois trimestres todos os principais produtores relataram resultados negativos”. Quanto aos preços, ela não aponta nenhum grande aumento, como o ocorrido entre 2010 e o primeiro quadrimestre de 2012, mas sim uma tendência de melhora estável.
 
Camila salienta que a Evonik segue fornecendo aos fabricantes brasileiros de tintas, plásticos e papel os pigmentos de última geração, como Kronos 2360, 2500 e 2800. Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento foram mantidos para continuar introduzindo grades state-of-the-art nestas aplicações que exigem elevada qualidade e competitividade. “Nós temos minas próprias de ilmenita na Noruega, e também fabricamos sais de ferro e produtos químicos à base de ferro ecologicamente corretos, oxicloreto de titânio e sulfato de titanila, entre outros desenvolvimentos”, afirmou Miguel Cedillo, diretor de vendas da Kronos Worldwide.
 
Camila explicou que nem a Kronos nem a Evonik tiveram relação com os movimentos pela redução no imposto de importação do TiO2. Mas ela admite que os produtores estrangeiros ganharam alguma competitividade, de cerca de 10%, com a medida, embora limitada a uma cota preestabelecida.
 
Regina Schwab, da Braschemical, avalia 2013 como um ano difícil para o mercado brasileiro, com vendas retraídas desde abril. “A demanda das tintas imobiliárias está enfraquecida e os chineses estão chegando ao mercado com muita força”, avaliou. Como ainda há clientes estocados, fica difícil montar um planejamento coerente para os próximos meses.
 
A Braschemical tem encontrado mais facilidade para vender dióxido de titânio para o setor de plásticos. “É um mercado que valoriza mais os aspectos técnicos, aceitando produtos especiais para alto desempenho”, comentou. Esse mercado é suprido com um portfólio que abrange até oito diferentes itens, compatíveis com diferentes polímeros e com graus variados de resistência à luz e de estabilidade térmica. Isso inclui produtos aprovados para contato direto com alimentos, úteis para a confecção de pratos descartáveis, por exemplo. “Também temos alguns tipos mais standard, como o RFK 2 e o RKV 2, este também usado para tintas”, informou.
 
A distribuidora divulga no Brasil dois tipos principais de TiO2 para tintas: o RKV 2, uma commodity mais usada pelas tintas imobiliárias; e o RKV 6, de alta resistência às intempéries, contendo zircônio. “Este é indicado para tintas industriais que necessitam de alta resistência ao intemperismo”, disse. O RKV 2 é produzido na fábrica alemã de Krefeld, que já pertenceu à Bayer (mesma origem da fábrica brasileira da Cristal).
 
Custos majorados – A comparação entre o custo de produção da fábrica de Camaçari-BA com outras unidades semelhantes da Cristal mostra uma significativa diferença em desfavor da produção nacional. “O gás natural é muito caro, US$ 13 a US$ 14/MMBTUs, contra US$ 3 a US$ 4 nos EUA, a eletricidade é cara, apesar das medidas tomadas pelo governo federal, a carga tributária é excessiva, e a mão de obra local já pode ser considerada cara, com os salários aumentando acima da inflação”, apontou Marino.
 
De positivo, ele menciona a desvalorização do real em relação ao dólar e a extinção da chamada Guerra dos Portos. “Alguns estados estavam subsidiando a importação de produtos químicos, era insustentável”, disse.
 
O estabelecimento de cotas de importação com alíquota de 2% de imposto de importação é visto com reservas pelo diretor da Cristal. “Essa medida está sendo usada mais para formar estoques do que para suprir o mercado, tanto que a cota se esgotou em curtíssimo prazo, a do ano passado acabou ainda no primeiro semestre”, comentou. Dessa forma, as importações brasileiras do insumo não devem crescer de forma preocupante para o produtor nacional.