Produtores de masterbatch já sentem um alívio na pressão de custos relativos ao dióxido de titânio (TiO2), insumo utilizado para gerar opacidade e pigmentação branca no plástico. Os últimos dois anos foram marcados por uma grande volatilidade nos preços. Em janeiro de 2011, a tonelada de TiO2 era comercializada por US$ 2,7 mil e chegou a US$ 3,2 mil um ano depois. Projeções de consultorias internacionais indicavam que a tonelada do insumo poderia chegar a US$ 4,8 mil em 2012 e superar a barreira de US$ 5 mil em 2013. Mas não foi isso o que ocorreu. Os preços chegaram a subir ao longo de 2012, com aumentos de até US$ 500 por tonelada, mas desinflaram. Voltaram aos patamares de 2011, sendo o produto comercializado em fevereiro de 2013 com valores médios entre US$ 2.800,00 e US$ 3.200,00 por tonelada. “Acreditava-se em um aumento na demanda global, mas isso não ocorreu. Pelo contrário, as principais economias do mundo estão em crise ou crescendo pouco. Hoje ninguém aposta em alta nos preços do TiO2”, diz José Carlos Bartholi, diretor comercial da distribuidora Minérios Ouro Branco.
Ciro Marino, diretor comercial e de marketing para a América Latina da Cristal, grupo saudita que é um dos maiores produtores globais de dióxido de titânio, relata que os preços subiram ao longo de 2011 e 2012 impulsionados por uma sequência de fatores. Por quase duas décadas, a indústria mundial de dióxido de titânio e também as mineradoras que extraem ilmenita e rutilo, insumos utilizados na produção de TiO2, não se sentiram estimuladas economicamente a investir em aumento da capacidade de produção. O problema se agravou com a crise econômica mundial em 2008, quando houve até mesmo o fechamento de unidades produtivas.
No final de 2010 e início de 2011, houve um aumento das encomendas, pois se acreditava numa retomada do crescimento da economia mundial. Em decorrência dessa crença, os preços dos minérios subiram. Em um prazo de 18 meses, a tonelada de ilmenita passou de US$ 90,00 para mais de US$ 300,00, estabilizando-se entre US$ 260,00 e US$ 280,00. A alta impactou as projeções de aumento no preço do TiO2. Em um primeiro momento, usuários industriais de dióxido de titânio – fabricantes de masterbatch, de tintas, de borracha e de papel – formaram estoques preocupados com a alta no custo do insumo e para se prevenir contra o risco de desabastecimento. Mas como a economia mundial não reagiu como esperado, os usuários de TiO2, no decorrer de 2012, reduziram as encomendas do insumo e passaram a queimar seus estoques. Com a retração das encomendas, a indústria mundial do aditivo, que tem uma capacidade produtiva instalada estimada em 6 milhões de toneladas, passou a operar, na virada de 2012 para 2013, utilizando algo entre 60% e 70% de sua capacidade.
O único produtor de TiO2 instalado no Brasil é a Cristal. A companhia mantém uma estrutura de produção integrada. Em Mataraca, na Paraíba, a empresa explora uma mina com vida útil estimada até 2020 de zirconita, cianita, ilmenita e rutilo. Estes dois últimos minérios são transportados por 1.100 km para abastecer a fábrica de dióxido de titânio mantida na Estrada do Coco, próxima de Camaçari, na Bahia. A fábrica tem capacidade instalada de 60 mil toneladas anuais. Marino relata que a produção da unidade, que em 2011 estava entre 80% e 85% da capacidade, também foi reduzida, acompanhando a tendência internacional.
O encolhimento da produção de TiO2, porém, ainda não impactou nos preços da ilmenita e do rutilo, que continuam inflacionados. A nova situação do mercado global, com custos produtivos elevados e demanda em baixa, passou a gerar especulações sobre a possível postergação de investimentos programados. A principal iniciativa em curso é da americana DuPont, a maior produtora mundial, com uma capacidade de 1,1 milhão de toneladas de TiO2, em cinco fábricas nos Estados Unidos, México e Taiwan, que anunciou em 2011 a ampliação de sua fábrica mexicana.
A companhia, que está reformulando seu quadro de lideranças mundiais no negócio de TiO2 – no início de fevereiro, anunciou o executivo Luis Rebollar como novo vice-presidente para a divisão de dióxido de titânio para a América Latina –, informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que mantém seu plano de expansão. “A DuPont reforça o seu compromisso com o mercado de dióxido de titânio e comunica que mantém os investimentos na expansão da unidade de Altamira, no México. Desde 2011, a unidade passa por um processo de ampliação de sua atual capacidade de produção, cujos investimentos totalizarão cerca de US$ 500 milhões. Este é o maior investimento da empresa na América Latina e adicionará cerca de 200 mil toneladas à capacidade global de produção. A expansão é parte estratégica do plano de crescimento da DuPont para os próximos anos”, comunicou a empresa.
Mercado brasileiro – Nos últimos dois anos, a demanda aparente de TiO2 no Brasil registrou queda. A expectativa agora é de um ligeiro crescimento. Segundo Ciro Marino, em 2010, o consumo de dióxido de titânio no país foi de 192 mil toneladas, caindo para 182 mil toneladas no ano seguinte. Em 2012, estima-se que tenha ficado entre 170 mil e 172 mil toneladas. Como relata o executivo, a movimentação de estoques, seguindo o exemplo do que ocorreu no exterior, também foi fator determinante para a evolução dos negócios no Brasil. Em 2011, os consumidores industriais de TiO2 foram às compras e formaram estoque se preparando para atender a uma expectativa de crescimento anunciada pelo governo federal na casa dos 4%, o que não ocorreu. Em 2012, o ano foi de consumir o estoque adquirido. Além disso, a produção industrial apresentou um recuo no país de 2,7%, segundo o IBGE, não estimulando a demanda. Para 2013, Marino estima um crescimento na demanda de TiO2 entre 2% e 3%, o que ainda manteria o consumo brasileiro abaixo do registrado em 2011.
O ano de 2012 não foi marcado apenas pela queda de consumo, mas também pela movimentação de troca de fornecedores. Como relata Vanessa Falcão, gerente de marketing e vendas da fabricante de masterbatches Procolor, a grande variação de preços do TiO2 nos últimos anos levou a companhia a desenvolver uma estratégia defensiva: “A busca de novas opções de fornecedores com preço competitivo e qualidade que atendam os nossos pré-requisitos.”
Não foi uma ação isolada, a estratégia da Procolor representa uma tendência de mercado. Além do produtor brasileiro, fornecedores com base produtiva na Europa e nas Américas perderam espaço para fornecedores chineses. Avalia-se que os orientais, apesar da queda do consumo brasileiro, apresentaram crescimento de 65%, já respondendo por 25% das 130 mil toneladas importadas pelo Brasil. José Carlos Bartholi confirma. A Ouro Branco, que representa no país os produtos da chinesa Wuxi Haopu, do grupo Gisi, obteve um crescimento de 30% nesse segmento de mercado, segundo o executivo. “E nossa expectativa é a de um bom crescimento em 2013 também, que virá não do aumento de consumo do país, mas do ganho de participação”, diz o executivo.
O planejamento dos importadores para 2013, porém, está sendo elaborado sob o impacto de duas novidades tributárias, uma aparentemente definitiva e outra que até o início de fevereiro ainda era uma incógnita. A primeira mudança diz respeito à chamada “guerra dos portos” (incentivos tributários estaduais a produtos importados). Por determinação do governo federal, produtos fabricados no exterior ou que tenham mais de 40% de componentes importados terão alíquota única de ICMS de 4% quando “viajarem” de um estado para outro. A medida mexe bastante com o mercado, uma vez que boa parte do TiO2 importado entrava no país por portos de estados como Santa Catarina e Espírito Santo, que concediam incentivos nas vendas para outros estados.
A mudança fiscal incerta diz respeito à alíquota do imposto de importação do TiO2. Em 2010, o governo federal reduziu a alíquota sobre o produto de 12% para zero, taxa que foi aumentada para 2% em 2011 e mantida no mesmo patamar em 2012, para uma cota de importação de 95 mil toneladas. A expectativa no mercado era a de que o benefício tributário fosse mantido em 2013, fato não confirmado até o início de fevereiro. Segundo Bartholi, as duas mudanças podem elevar em até 15% os preços do TiO2 importado.
Demanda da indústria do plástico – O principal cliente do dióxido de titânio é a indústria de tintas, responsável por 60% da demanda brasileira. A indústria do plástico responde por 24% das encomendas, a de papel por 5% e a de borracha, por 3%, mesma participação dos fabricantes de tintas gráficas. Segundo Vanessa Falcão, da Procolor, o TiO2 é a principal matéria-prima do masterbatch branco, mas ele também é importante na composição das cores, tendo função de cobertura e fechamento das cores. Como diz Camila Pecerini, chefe de produto na área de materiais inorgânicos na América Latina da Evonik, além da pigmentação branca, o TiO2 é responsável por conferir opacidade aos sistemas, sendo essa sua função elementar, e também contribui com propriedades como facilidade de dispersão e resistência às intempéries.
A alemã Evonik atua no mercado de TiO2 representando a linha de produtos da Kronos, que possui fábricas na Europa, Canadá e Estados Unidos. O Brasil é atendido principalmente pela produção europeia. Segundo Camila, a indústria de dióxido de titânio desenvolve produtos com propriedades específicas para a aplicação em diferentes resinas plásticas. No caso da Kronos, a empresa oferece especificações para PVC, policarbonato, poliestireno, copolímeros, plásticos de engenharia, poliolefinas e masterbatches. Os itens no catálogo da companhia mais importantes para o setor são: o Kronos 2220, que tem como principais características a qualidade da dispersão, suas propriedades ópticas e a resistência a intempéries, sendo, por isso, recomendado até mesmo para aplicação em resinas PVC que serão utilizadas em ambientes externos, como perfis de janelas; o Kronos 2233, que atende especificamente o policarbonato, uma vez que sua composição minimiza a degradação do polímero e, sendo de fácil dispersão, impede possíveis defeitos de superfícies causados durante o processo de injeção, melhorando o brilho; e também o Kronos 2450, que pode ser incorporado em várias resinas, desde poliestireno e polímeros de engenharia às poliolefinas.
Como ocorre na indústria de tintas, produtores de plásticos também recorrem a extensores, principalmente à base de caulim calcinado, para substituir parcialmente o uso de dióxido de titânio tanto para a função de pigmentação como de opacidade. No entanto, enquanto na tinta os extensores chegam a substituir entre 10% e 15% do TiO2 na formulação, na indústria do plástico a substituição é mais restrita, ficando entre 5% e 10% da formulação, dependendo da resina a ser aplicada e da finalidade do produto final. Segundo José Carlos Bartholi, o preço dos extensores à base de caulim calcinado é um quarto do valor do TiO2 e a procura varia de acordo com o preço do dióxido de titânio. Quanto maior, mais elevada é a procura pelos extensores.